segunda-feira, 23 de abril de 2012

Salvação dos bancos

As medidas de austeridade atiçam as classes populares, sabedoras de que a corda arrebenta sempre em suas mãos. Espicaçam também os ânimos de políticos jovens e maduros de todas as cores políticas. Fabrizio Frosio, do Partito delle Aziende, Piccole e Medie Imprese (PDA), em carta aberta publicada no início do ano, denunciao suicídio de pequenos empreendedores e dispara: “Incomodou-me e chocou-me verdadeiramente a notícia de que a BCE (Banca Centrale Europea) coloque à disposição dos bancos europeus, a um custo próximo do zero, mais de 400 bilhões de euros, que depois são vendidos a taxas usurárias aos comuns mortais e às pequenas empresas ainda ‘vivas’”. Frosio faz um apelo para que os italianos se rebelem contra as rapinas feitas “sem capuz” por instituições bancárias, seguradoras e organizações voltadas à recuperação forçada e desumana, que está levando a numerosos suicídios: “Basta de bancos sem escrúpulos e cheios de cadáveres e sobretudo basta com as estratégias do grande ‘culto’ (aqui se refere a Monti), que, no final das contas, se revela somente um ‘pobre homem’, rico apenas de poder e falsos amigos a salvaguardar.”

No último dia de fevereiro deste ano bissexto chegou a notícia de que o Banco Central Europeu acabara de entregar a instituições bancárias um total de 529,5 bilhões de euros, a uma taxa de 1%, em 36 meses. Desse máxi empréstimo, do qual 139 bilhões terminaram nas mãos de bancos italianos, reclama Antonio Di Pietro, líder do partido Italia dei Valori e crítico assíduo do governo técnico de Monti, que, segundo ele, está se tornando “o governo da propaganda, de modo sóbrio, mas mortal'.

“Chega de favorecimentos aos bancos”, protesta Di Pietro, lembrando que se trata do segundo empréstimo de grande monta oferecido ao sistema bancário no prazo de dois meses. O precedente, concedido em 21 de dezembro de 2011, foi de 489 bilhões de euros, dos quais um quarto do valor destinou-se a bancos italianos. Di Pietro destacou-se por sua liderança como magistrado e procurador da república no processo judicial que ficou conhecido como “Mani pulite” (Operação Mãos limpas). A investigação judicial, de grande amplitude, desencadeada nos anos 90, averiguou um devastador sistema de corrupção, financiamentos e atos ilícitos ligado ao mundo político e financeiro italiano, batizado de Tangentopoli” (“tangenti” eram propinas cobradas para conseguir empréstimos, ganhar licitações ou fazer qualquer operação envolvendo valores ilegais).

Foram denunciados no processo ministros, deputados, senadores, empresários e até um ex primeiro ministro. Partidos históricos como Democrazia Cristiana desapareceram, políticos e industriais incriminados chegaram a cometer suicídio e os efeitos foram de tal envergadura a ponto de se considerar que “Mani pulite” teria sido responsável pelo fim da Primeira República Italiana.

Sobre os empréstimos concedidos aos bancos no auge da crise atual, Di Pietro declara, no seu blog: “Este dinheiro deveria servir ao país e ao seu crescimento, não aos banqueiros e suas especulações. Os banqueiros já embolsaram outro empréstimo multimilionário, especularam fartamente e encheram os bolsos às custas do Estado, deixando no desespero empresas e famílias que necessitavam de algum pequeno empréstimo. O governo Monti tem o dever de impedir que este “joguinho” prossiga. Se aos bancos italianos são concedidas essas vantagens excepcionais, eles têm que assumir a obrigação de usar os bilhões para impulsionar a Itália e não para se recapitalizarem”.

Em dois anos, segundo dados da CISL (Confederazione Italiana Sindacati Lavoratori), 120 mil empreendedores artesãos e trabalhadores autônomos tiveram que fechar o batente. A estimativa é de que 60 mil empresas faliram, registrando um aumento de insolvência de 53% relativamente a 2008. Recentemente, em “L’UltimaParola”, programa de debate político apresentado por Gianluigi Paragone e transmitido pela Radio Televisione Italiana (RAI) compareceu um dos invisíveis desta tragédia. O homem, desempregado, contou que não consegue mais um trabalho e já chegou ao fundo do poço. De tudo o que possuía, só conseguiu preservar seu velho automóvel, onde agora vive com a mulher e um filho adolescente.


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